Oxum é a divindade do rio de mesmo nome que corre na Nigéria, em Ijexá e Ijebu. Era, segundo
dizem, a segundo mulher de Xangô, tendo vivido antes com Ogum, Orunmilá e Oxossi.
As mulheres que desejam ter filhos dirigem-se a Oxum, pois ela controla a fecundidade, graças aos
laços mantidos com Ìyámi-Àjé (“Minha Mãe Feiticeira” ). Sobre este assunto, uma lenda conta que:
“Quando todos os orixás chegaram a terra, organizaram reuniões onde as mulheres não eram
admitidas. Oxum ficou aborrecida por ser posta de lado e não poder participar de todas as
deliberações. Para se vingar, tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas
pelos deuses chegassem a resultados favoráveis. Desesperados, os orixás dirigiram-se a Olodumaré e
explicaram-lhe que as coisas iam mal sobre a terra, apesar das decisões que tomavam em suas
assembléias. Olodumaré perguntou se Oxum participava das reuniões e os orixás responderam que
não. Olodumaré explicou-lhes então que, sem a presença de Oxum e do seu poder sobre a
fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderia dar certo. De volta a terra, os orixás
convidaram Oxum para participar de seus trabalhos, o que ela acabou por aceitar depois de muito lhe
rogarem. Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizes
resultados” .
Oxum é chamada de Ìyálóòde (Iaodê) título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante
entre todas as mulheres da cidade. Além disso, ela é a rainha de todos os rios e exerce seu poder sobre
a água doce, sem a qual a vida na terra seria impossível.
Os seus axés são constituídos por pêras do fundo do rio Oxum, de jóias de cobre e de um pente de
tartaruga.
O amor de Oxum pelo cobre, o metal mais precioso do país iorubá nos tempos antigos, é mencionado
nas saudações que lhe são dirigidas:
“Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço” .
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Oxum limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos “ .
Numerosos lugares profundos (ibù), entre Igèdè, onde nasce o rio, e Lke, onde ele deságua na lagoa,
são os laçais de residência de Oxum. Aí, ela é adorada sob nomes diferentes e suas características são
distintas uma das outras. Encontramos:
Yèyé Odò, perto da nascente do rio;
Òun Ijùmú, rainha de todas as Oxuns e que , como a que vem a seguir, está em estreita ligação com
as bruxas Ìyámi-Àjè;
Òun Àyálá ou Òun Ìyánlá, a Avó, que foi a mulher de Ogum;
Òun Oogbo, cuja fama é grande por ajudar as mulheres a ter filhos;
Òun Apara, a mais jovem de todas, de gênio guerreiro;
Òun Abalu, a mais velha de todas;
Òun Ajagira, muito guerreira;
Yèyé Oga, velha e brigona;
Yèyé Olóko, que vive na floresta;
Yèyé Ipetú;
Yèyé Mrin ou Ib
rin, feminina e elegante;
Yèyé Kare, muito guerreira;
Yèyé Oníra, guerreira;
Yèyé Oke, muito guerreira;
Òun Pòpòlókun, cujo culto é realizado próximo à lagoa e que, diz-se no Brasil, não sobe à cabeça das
pessoas.
Sobre Òun Àyálá, também chamada de Òun Ìyánlá,
a Avó , diz-se que era uma mulher
poderosa e guerreira, que ajudava Ogum Alagbedé, seu esposo, na forja, da mesma maneira que Oiá.
Ogum forjava e, quando o ferro começava a esfriar, ele o colocava no fogo, atiçado por oxum que
fazia funcionar os foles em cadência. O barulho que eles faziam, kutu, kutu, kutu, era ritmado e
parecia que Oxum tocava um instrumento de música. Um Egúngún que passava pela rua se pôs a
dançar, inspirado pelo som que provinha dos foles . Os passantes maravilhados testemunharam seu
contentamento oferecendo dinheiro. Muito honestamente. Egúngún entregou metade da soma
recolhida a Oxum, a Avó, o que lhe valeu ser denominada de:
“ Tocadora de música num fo
Proprietária do fole que sussurra como a chuva,
E cuja tosse ressoa como urra o elefante “ “ .
Segundo Epega, os reis Awaùjalè de Ijebu-Erê, em Eriti, e de Ijebu-Odê, em Ijebu, saúdam Oxum
dizendo: “Minha Mãe” .
Laços muito estreitos existem entre Oxum e os reis de Oxogbô. Neste lugar, a festa anual das
oferendas a Oxum é uma comemoração pela chegada de Laro, fundador da dinastia, às margens deste
rio cujas águas correm permanentemente. Laro, depois de muitas atribulações, achando o local
favorável ao estabelecimento de uma cidade, aí se fixou com a sua gente. Alguma dias depois de sua
chegada, uma de suas filhas foi banhar-se no rio e desapareceu sob as águas. Reapareceu no dia
seguinte, soberbamente vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela divindade do rio. Laro,
para demonstrar a sua gratidão, dedicou-lhe oferendas. Numerosos peixes, mensageiros da divindade,
vieram comer, em sinal de aceitação, as comidas que Laro havia jogado nas águas. Um grande peixe,
que nadava próximo ao local onde este se encontrava, cuspiu-lhe água. Laro recolheu esta água numa
cabaça e bebeu, fazendo assim um pacto de aliança com o rio. Estendeu, depois, as duas mãos para
frente e o grande peixe saltou sobre elas. Laro recebeu o título de Atóója – contração da frase iorubá
A téwó gbáà
já (Ele estende as mãos e recebe o peixe) e declarou: Òun gbo (Oxum está em estado
de maturidade), suas águas serão sempre abundantes. Essa foi à origem do nome da cidade de
Oxogbô.
No dia da festa anual, Atáója vai solenemente até as margens do rio. Tem a cabeça coberta por uma
coroa monumental feita com pequenas miçangas reunidas e é vestido com pesada roupa de veludo.
Anda com calma e gravidade, rodeado por suas mulheres e seus dignitários. Nessa procissão anual,
uma de suas filhas leva a cabaça contendo os objetos sagrados de Oxum. É a Arugbá Òun (aquele
que leva a cabaça de Oxum). Ela representa a moça que outrora desapareceu no rio. Sua pessoa é
sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade da puberdade, ela não pode
mais preencher essa função. Mas, pela graça de Oxum, a descendência de Atáója é sempre numerosa,
não faltando, pois, a possibilidade de se encontrar uma Arugbá Òun disponível.
Atáója senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vêm assistir à cerimônia. Os reis e os chefes das
cidades vizinhas estão todos presentes ou enviam representantes. As delegações chegam, uma após
outra, acompanhadas de músicos. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se como
formas de cortesia recíprocas, com animação crescente. Ao final da manhã, atáója, acompanhado do
seu povo e dos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí manda lançar oferendas e comidas, no mesmo
lugar onde Laro o fizera outrora. Os peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de Oxum.
A seguir, Atáója dirige-se até as proximidades de um pequeno templo vizinho e senta-se sobre a pedra
– Òkúta Laro -, onde seu ancestral Laro havia repousado em outros tempos. A adivinhação é feita
para saber se Oxum está satisfeita e se ela tem vontades a exprimir. Atáója volta em seguida para a
clareira, onde recebe e trata seus convidados com uma generosidade digna da reputação de Oxum, a
rainha de todos os rios.
créditos trecho retirado do livro Pierre Verger (Os orixás)